Paul Ricoeur trata da maravilha e do enigma que
estão presentes na sexualidade. Sua análise mostra a busca de um novo sagrado
na ética conjugal contemporânea, mostrando o risco da perda de sentido da
sexualidade dentro dessa ética (erotismo) e concluindo que a sexualidade
permanece como enigma, irredutível a qualquer tentativa de sistematização
puramente racional.
Inicialmente, ele afirma que a destruição da visão
cosmo-vital antiga e sua desmitologização pelo monoteísmo ético provocou uma
dessacralização da sexualidade e a sua institucionalização no casamento, com
função social de procriação. O Eros passa a ser disciplinado pela instituição.
Aliado a isso, o dualismo promoveu no pensamento ocidental uma visão de
ressentimento anti-sexual (p.30).
Surge, então, a ética conjugal dos modernos que
procura reconstruir um novo sagrado, baseado numa aliança frágil entre espiritual
e carnal na pessoa (p.30). Sua grande contribuição é afirmar a sexualidade como
ternura, ou seja, como expressão de uma personalização mútua. A nova ética
mantém a instituição, mudando sua intenção,
ao
incluir a procriação na sexualidade e afirmar que esta promove a realização da
pessoa no interpessoal como o fim mais importante do casamento (pp.32-33).
O problema da sexualidade, porém, não está
resolvido, porque continua a disciplina exercida sobre o Eros, provocando uma
tendência centrífuga, na qual o Eros esquece a interpessoalidade da ternura e
torna-se erotismo (busca egoísta do prazer). Assim, sexualidade torna-se: insignificação
(redução à simples função biológica); imperativa (compensação de decepções em
outras esferas da vida: trabalho, política, sentido); interesse sobre si mesma
(busca desenfreada de prazer quantitativo).
Não se reduzindo às tentativas de enquadramento
puramente racional, a sexualidade permanece sempre como enigma, como mistério,
que só poderá ser representada simbolicamente, ou seja, através do que de
mítico há no ser humano (p.36). Sendo mistério, o Eros, não se deixa reduzir e
disciplinar pela instituição. Qualquer tentativa de conciliação entre ambos
será algo feliz e raro (p. 38). Por: Antônio Ronaldo Vieira Nogueira, aluno, Ética Cristã da Sexualidade, FAJE, 2012.1
0 comentários: