A fenomenologia dos gestos carnais II: a carícia

O toque, o passeio das mãos, o roçar do corpo; o que se sente à flor da pele...
• ... Isso tudo revela a presença do outro e que nos fazemos presentes na carícia. 
•Mas paradoxalmente é o lugar também da ausência do outro porque não sabemos muito bem o que buscar, não encontramos o objeto, esse alguém que sempre nos escapa.
•Verdadeiramente, não se atinge quem se toca. No fundo o outro é intangível; ao acariciar, a carícia pede sempre mais e o outro sempre escapa.
•Assim, a carícia, na sua dinâmica de presença e ausência, acentua um hiato.
–É onde nasce o desejo.
–O desejo é a experiência da falta.
–Fica-se como que incompleto e o desejo alcança a ordem da busca.

A carícia como promessa
Da carícia nasce também a promessa, porque o corpo do outro se retira, e surge então uma espera (esperar que o outro se me entregue). É a espera de um porvir, daquele que está por vir/chegar (prenseça); é também um futuro (tempo). O outro abre, então o futuro, nasce o tempo. Assim, é intrínseco ao desejo a duração.

A ambivalência presente na carícia
Pela carícia, percebe-se que os gestos carnais são da ordem da sensualidade, da afecção dos sentidos (cheiro, tato). Isso causa em nós uma excitação dos sentidos, uma gratificação (bem-estar) que é como que uma aderência ou impregnação que busca a saciedade. Isto é, a dimensão da sensualidade leva a buscar a saciedade. Na expressão sexual, o desejo é sempre insaciável, mas o gozo e o prazer são transientes e saciáveis. O risco é fixar-se no gozo. Na fixação/aderência, a erótica (do desejo) passa ao erotismo, o toque passa para manipulação (ou masturbação) porque cada um procura o seu gozo; o outro é retido para me satisfazer.

1 comentários:

  • luz | 16 de maio de 2011 às 13:46

    O filme "Desejo e obsessão" retrata o desejo despertado num homem, mas que fora drasticamente não mais correspondido. Isso o levou a uma obsessão ao ponto de tornar-se insaciável não só o desejo , mas também o gozo e o prazer que o levou a fazer loucuras para satisfazer-se. Posso chamar isso de uma patologia nos afetos, de um erotismo patológico?
    Luziene

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