Sobre o estatuto epistemológico da ética cristã da sexualidade

A questão norteadora do curso: É possível uma ética cristã da sexualidade? Somos sexuados, e o Filho se fez carne e pessoa. Logo, o seguimento de Jesus Cristo coloca uma atitude diferente frente à sexualidade. A resposta vem pelaarticulação entre a Ética Teológica fundamental e a ética cristã da sexualidade.
A Teologia Fundamental tem uma dimensão de universalidade, porque aquilo que o Cristo revela da humanidade, revela como um todo; revela o sentido da vida humana. O cristianismo não é regime de exceção. A conseqüência disso é que a “humanização de nossa humanidade” se dá com os outros, para os outros no mundo (em instituições justas). A humanização da nossa humanidade se dá no nosso corpo; sendo pensada (na ética cristã) do ponto de vista da sexualidade. Logo, a ética cristã da sexualidade não é regime de exceção.


Mas há também uma dimensão de particularidade: graças à Encarnação, o cristão não se autocompreende senão referido ao Cristo, celebrando em sua vida o Mistério Pascal [1] (Eucaristia e Batismo, notadamente). Como conseqüência, a configuração de nossa vida com o rosto do Cristo (o Outro) se dá através de várias alteridades; as Escrituras, a Comunidade, a Liturgia, o outro. Essa configuração é também uma in-corporação no Corpo de Cristo. E o Corpo de Cristo é uma metáfora da relação esponsal (ou de Aliança) que o Cristo fez conosco e com a Igreja. Assim, a sexualidade cristã tem um caráter sacramental, é vivida como sinal da entrega do Cristo pelo seu corpo, a comunidade cristã.


O caráter sacramental da vida nos lança numa dimensão pneumática. O Cristo, ao nos humanizar, nos diviniza, nos incorpora à Trindade. Temos o Espírito do Cristo e vivemos santificados com O Santo.


Relação da ética cristã da sexualidade com a Dogmática: dependendo do modo como tem sido tratada a Dogmática (Cristologia, Trindade, etc...), tem sido gerada nos cristãos mais uma ética estóica ou gnóstica da sexualidade [2], onde se pode negar o desejo, a erótica e o prazer, que são características do humano. Isso implica dizer que o grande desafio de uma ética cristã da sexualidade é a articulação do per-dão e da Graça do Cristo com o desejo, o prazer, o dom da carne erótica que a humanidade recebeu na criação.


(texto retirado de minhas anotações das aulas do professor Nilo Ribeiro Júnior, na FAJE, em 2006)
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[1] Morte e Ressurreição. A graça do Cristo, o per-dão; o dom da vida do Cristo para nós.
[2] Onde se procura descobrir uma razão (natural) para se pautar por ela.

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