Autoerotismo

Qual a linguagem cristã sobre o autoerotismo, a masturbação? A partir do estudo da linguagem e do imaginário (narrativas bíblicas, tradição da Igreja e pronunciamentos do Magistério) de gestos concretos de expressão da sexualidade, o juízo moral sobre a masturbação fica matizado. Erotismo tem para nós o mesmo sentido que a palavra "descaminho" no texto de Paul Ricoeur "A maravilha, o descaminho, o enigma". A simbólica da sexualidade emerge dos gestos carnais enquanto vividos, isto é, ação de pessoas vivendo suas vidas. Na simbólica, eles não estão dissecados ou objetivados. Os gestos carnais revelam que a sexualidade é da ordem da afecção, da erótica, pois revelam na sua própria expressividade a dimensão da encarnação; o desejo, a volúpia deixa marcas na carne. A não realização da nossa erótica, do desejo, pode levar ao erotismo.

No percurso desta nossa disciplina, vimos articulando o sentido (humanização da nossa humanidade) e os valores (relação, hospitalidade, fecundidade, não-invasão, etc...) da sexualidade. Assim, a masturbação aparece como ambivalente, porque pode levar da erótica (manter o desejo da carne desejante) ao erotismo (satisfazer, saciar o desejo). Como é do âmbito do desejo, essa ambigüidade pode levar a uma retenção no gozo que pode enfraquecer nossa maturidade afetiva, nossa passagem do narcisismo (fusão em si) ao relacional. Pode solapar a capacidade oblativa da sexualidade humana. Colocando a ênfase no “cuidar do desejo” e olhando para o masturbador, essa aproximação ajuda a desculpabilizá-lo em relação à sociedade, à Igreja e ao “pai” que imputam a culpa. Também ajuda a repensar a masturbação numa cultura do prazer imediato.

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