As dimensões da ética da sexualidade

a)  Cuidado de si mesmo: Cuidar para que, no meu agir, não me perca na relação. O “eu” é único, como o outro também o é. Manter a unicidade é tornar-se sujeito da sexualidade. Isso não é voluntarismo ou ascese barata, mas é cuidar do desejo. Não deixar certas expressões da sexualidade embotar o desejo, ou se tornar estéril. No fundo, é cuidar da nossa identidade sexual. E o que é a identidade sexual? Trata-se de ocupar o nosso lugar, falar a partir de nós mesmos. É uma “virilidade” no modo de encarar nossa sexualidade; se não formos sujeitos, podemos nos tornar ser objeto do próprio gozo ou do gozo do outro, como quando se é “carente”. Tornar-se objeto é estar sujeito às paixões, num padecer, onde há fixação, onde se fica retido no gozo. É quando se percebe que se está “desfigurado na sua sexualidade”. Trata-se de uma separação entre o “eu” e o seu desejo; uma separação que faz dar-se conta da sua unicidade e da unidade do outro.
b)  O outro na sua carne/corpo/fala, é sempre um inter-dito. (carne-corpo-fala  pessoa). O inter-dito diria: que nos empenhemos em viver na nossa carne, no mundo do desejo (que nos move), mas que há que se cuidar do desejo do outro. Que o outro não deixe de (me) desejar, que apareçamos no seu horizonte interpelando-o, que ele se cuide, que preserve o seu desejo, que não se desfigure, que não se deixe invadir.
c)   A co-responsabilidade. Trata-se de que “os dois da relação” vejam a relação como um terceiro. Como, então, cuidar da relação? Que entre os dois se mantenha vivo o (i) terceiro da relação e na relação; (ii) o tempo da relação, a duração, sua história, que se configura na fidelidade. O terceiro e a durabilidade põe em evidência o vínculo.
d)   Institucionalização do desejo. Trata-se da dimensão social da sexualidade, que deve ser cuidada para que a relação não se torne privatizada. Isto é, de que há outras dimensões no ser humano além da sexualidade. O sexo é do âmbito do desejo, e como tal do âmbito da promessa, do tempo da relação, os quais vão se historicizando nas instituições que garantem essa duração. A instituição está apoiada no inter-dito das relações, e não das interdições que nascem historicamente das relações situadas). Logo, a relação é instituinte*.
(*) "um e outro" --> inter-dito --> cuida-se do desejo --> implica na duração --> vínculo --> dimensão social (que cuida do vínculo... mas pode também solidificá-lo; esclerosado)

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Este é o fim da aula de 16 de maio.

1 comentários:

  • Isaac | 24 de maio de 2011 às 23:34

    A relacionalidade do ser humano para com outro ser humano é iluminada pela relação com Deus, uma relação de santificação e não de jurisprudência, assim pode-se compreender a sexualidade em seu conjunto de relação de vínculo com outrem.

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