Ética Cristã da Sexualidade como Incorporação ao Cristo - I

Nos capítulos anteriores...

Antes de abordarmos especificamente a questão da possibilidade de uma ética cristã da sexualidade desenvolvida a partir da idéia teológica da incorporação em Cristo, revisemos alguns dos seus pressupostos: o primeiro, é a antropologia bíblica unitária, sobre a qual discorremos em três partes. Na parte 1 dissemos que, diante da complexidade da sexualidade humana, abordar a ética pelo simbólico pode ser um caminho. Esta simbólica, a temos riquíssima na Bíblia. Tal simbólica é explorada na parte 2, o mito adâmico da criação. Lá dissemos que a carne humana, enquanto criada do pó da terra (mundaneidade do mundo) é criada inspirada, animada, para a relação com Deus na santidade. Esta visão vê o corpo humano sexuado como separado do sagrado e do divino, como de resto está separada toda a criação na concepção bíblica. Assim, com Xavier Lacroix, dissemos que o termo 'santidade' diz melhor a mediação da liberdade do que o termo 'sagrado'. A mediação da liberdade humana faz a ligação entre a gravidade-aderência-sensualidade da carne e o movimento do Espírito conduzindo o homem e a mulher na relação com o Santo (isto é, vida de santidade). O pressuposto teológico aqui é a relação entre ética e espírito, explorada na parte 3. Ali, a relação (que interessa à ética) entre a materialidade da carne e a visão bíblica da carne inspirada (bāśār), se dá pela possibilidade do psíquico (espírito) na materialidade do mundo e da carne. O Espírito (Ruah) insufla o terroso (inanimado, pó) e cria a carne animada (Gn 2,7). Esta carne inspirada traz em si não só o limite e a fragilidade do mundo criado (circunscrito à materialidade; finitude), mas o movimento espiritual (do psiquismo humano) que se põe a questão do sentido (origem, finalidade ou realização; como posso viver plenamente meu sexo, meu corpo? etc...).

Como a sexualidade humana está ligada tanto à geração de vida humana (bios) como à dinâmica da vida amorosa (não só a erótica, mas também a ética (relações familiares e sociais; não só eros, mas ágape e filia), tudo isso implica que a sexualidade humana, porque ordenada à santidade, é lugar do dom de Deus na carne. Como?

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