Ética Cristã da Sexualidade como Incorporação ao Cristo - II

A presença do dom de Deus na sexualidade
Deus, o Santo (separado) só está presente na carne pela mediação da liberdade, isto é, na duração - no tempo e na finitude - das criaturas que se entregam no sexo. Entregar-se ao sexo tem uma dimensão erótica do prazer, mas tem também uma dimensão de relação: a relação dos dois, mas que  pode se expandir (porque aberta) ao terceiro (filho) e daí ao social. Essa liberdade, porém, dá-se através da carne. Há uma ENCARNAÇÃO, onde a sexualidade também torna-se expressão da liberdade e da responsabilidade humanas. Assim, não há nenhuma razão para pensar Deus como se fosse estranho à vida sensível. Mas tampouco há confusão, ou seja a naturalização dessa presença, ou a divinização da sexualidade.


A pessoa e seu corpo são lugar da liberdade e responsabilidade
Na antropologia unitária da tradição judaico-cristã, quando nos referimos à carne significamos (1) a pessoa na sua condição finita, situada; ao falarmos da carne psíquica, referimo-nos à (2) posse da palavra pela criatura; e ao falar do corpo queremos dizer do (3) corpo que é próprio de alguém, da pessoa encarnada. Logo, a sexualidade, no que diz respeito ao nosso corpo, ela o diz a respeito da nossa pessoa. Do ponto de vista teológico, é na pessoalidade que o ser humano pode se fazer (realizar-se) na relação com o Santo e, assim, a sexualidade está no âmbito da santidade, mas não no âmbito do sagrado. Ver também aqui e aqui.
A antropologia bíblica unitária, expressa na simbólica da criação, diz respeito às origens do gênero humano. A partir dela, através de uma perspectiva filosófica, não há, por assim dizer, uma dicotomia entre sexo (carne) e espírito (sem carne, sem sexo). A sexualidade é carnal no prazer, é psíquica no desejo, é pessoal/relacional na ternura e no cuidado; prazer, desejo e ternura se dão no corpo, o lugar do acontecer da sexualidade humana.
Ao postularmos uma ética cristã da sexualidade, cabe então perguntar qual é a especificidade cristã diante disso tudo. Não estamos falando da moral cristã, mas postulando uma ética cristã da sexualidade. Convém, então, referir-se ao início deste blog, recordando sobre o estatuto epistemológico da ética cristã da sexualidade e sobre a relação entre a ética cristã da sexualidade e a história, pois a diversidade cultural humana é o dado antropológico sobre o qual nos debruçamos para pensar tal ética e sua universalidade (na história, os homens e mulheres de carne e osso, são culturalmente diversos e assim vivem a sua sexualidade).
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Na figura: perceber como Cristo se inter-põe entre Adão e Eva, na nudez de seus corpos. Cristo está em movimento entre homem e mulher, é elo, dinamismo. Agarrado a mulher, dirige-se ao homem, e ambos tem seu olhar Nele, como a esperar, como a confirmar seu movimento (lembremos a associação entre Espírito e movimento).

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